Passado aquele momento em que você decide – ou decidem por
você – terminar e ficar solteira, dá-se um processo de
transição que inclui, geralmente, um novo corte de cabelo e novos amigos. Mas mesmo depois que o luto passa, mesmo depois que você emagrece e
se sente cada vez mais bonita, mesmo com novos contatos te chamando para sair... pode ser que ainda falte algo.
É difícil se aceitar solteira. Bom, pelo menos para mim foi.
Porque de repente eu faço parte do "outro time", e fico diante de situações que eu
sempre desprezei quando estava em um relacionamento estável. Como, por exemplo,
ter que caprichar no visual para ir para balada, mesmo quando lá foi fora cai um dilúvio. Ou ainda trocar olhares com um gato no supermercado até ver aquele anelzinho dourado no
dedo dele. Antes eu era a dona do anel.
É complicado.
E é nessas horas que ficamos carentes. Ou nos apaixonamos
pelas pessoas erradas. Ou afastamos as pessoas que poderiam ser as certas. Por puro medo de arriscar e começar tudo de novo, sem garantia nenhuma. Arnaldo Jabor disse que gostar dói, e dói mesmo. A gente apanha e fica escaldada. Quantas vezes vi
amigas minhas terminando relacionamentos, precocemente, por não quererem
colocar em risco a estabilidade (leia-se zona de conforto) na qual se
encontravam. Ou porque o cara roncava. Ou porque estava bom demais para ser
verdade.
As desculpas são inúmeras, e intermináveis.
As desculpas são inúmeras, e intermináveis.
Embora nem
todas nós consigamos assumir o desejo de estar em um novo relacionamento, com todos os clichês a que temos direito (sair por
aí andando de mãos dadas, mudar o status de relacionamento no Facebook e
postar muuuuuitas fotos, grudadinha nele), a maioria esmagadora quer muito isso. É vergonhoso querer isso? A sociedade estereotipou, nós mesmas estereotipamos "a mulher que ficou para a titia", "a encalhada", "a mulher de sucesso, mas solitária"... e por isso nos cobramos aquele orgulho de estar solteira, "antes só de que mal acompanhada". Um orgulho esse muitas vezes forçado.
Depois de sobreviver ao término, a tendência é que nos
sintamos mais fortes, mais seguras, e, ao mesmo tempo, mais
medrosas, mais exigentes para novos relacionamentos. É por isso que mesmo odiando
estar solteira a gente continua nessa, esperando secretamente o dia em que o novo príncipe chegue, dispensando o cavalo branco mas com atitude suficiente para nos fazer arriscar.
Quando a vontade for maior que o medo, essa será a hora.
Quando a vontade for maior que o medo, essa será a hora.